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sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Compartimentar...


Me peguei hoje a refletir sobre como a sociedade nos impulsiona a nos compartimentarmos (existe esta palavra?).

A sensação é esta: Aqui posso ser sincera, aqui nem tanto... Neste espaço tenho que moderar minhas palavras porque tal pessoa ou tal grupo não está aberto para receber ponderações. Neste lugar devo me conter, neste outro posso chutar o balde das minhas "verdades" sem medo de respingar em ninguém.

E aí seguimos interpretando tantos papéis quanto esperam de nós, ou do contrário optamos por cairmos em certo ostracismo social e culpa interior por não termos dado conta de sermos como a maioria esperava. Viramos colcha de retalhos, cuja identidade é um emaranhado de pedacinhos de outros que no fim de tudo, forma uma coisa que chamam de "nós".

Este sentimento aqui então eu deixo para mostrar alí. Este outro mais adiante, num momento oportuno que talvez chegue ou talvez nunca venha...Este jogo para debaixo do tapete e aquele encerro no fundo do poço dos sentimentos não gratos.

Vamos construindo nossas máscaras e quando vemos também nos transformamos em alguém com medo de ouvir opiniões. Entendendo opiniões como críticas, fazendo este ridículo paralelo... Viramos alguém que também obriga o outro a compartimentar suas atitudes e verdades, filtrar, encerrar, oprimir, descartar.

Afinal, levamos tanto tempo para construir nosso mundinho, nossa personalidade tão bem retocada e vem um audacioso e tenta mostrar que tem uma falha aqui e um errinho alí... Que não nos acha perfeitos, infalíveis.

O quanto adultos somos para sair do raso existencial e arriscarmos mergulhar nas águas fundas dos sentimentos reais sem medo de retaliações?

E se estamos pontos a pagar o preço, será mesmo que vale a pena? Que o mundo comporta gente de verdade, sem subterfúgios? Sem maquilagem, sem glitter?

Parece que o ajustar-se então é enfim o desajuste dos nossos verdadeiros desejos, das nossas reais necessidades, da nossas sensações e sentimentos, nossas opiniões e entendimento.

Melhor sair então amanhã e comprar caixinhas coloridas com etiquetas e colocar dentro de cada uma o que tenho e não posso mostrar, o que sinto e não posso sentir, o que grita dentro de mim e que preciso calar. Compartimentadas cada qual em seu quadradinho colorido, quem sabe um dia, numa faxina anual qualquer, serão abertas e saltarão livres para num mundo finalmente mais maduro para ouvir e simplesmente respeitar.

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